
Assis - Vocação para a inércia

A imprensa cobriu todo o desdobramento do destino do Parque de Exposições Jorges Alves de Oliveira. Pois bem, gostaria de lembrar alguns fatos ocorridos na ocasião da criação deste espaço.
Assim que foi criado o parque de exposições, os dois primeiros eventos lá realizados foram administrados e organizados pelo Sindicato Rural de Assis e a ACIA – Associação Comercial e Industrial de Assis. Nessa época, Assis era uma região de destaque pela agricultura diversificada e, dentro do estado de São Paulo, rivalizava com a região de Ribeirão Preto, sendo que em termos de grãos, era a primeira produtora do Estado.
Então havia uma idéia de transformar o Parque de Exposições em uma Fundação, para assim ampliar as possibilidades de desenvolvimento regional. O Sindicato Rural de Assis propôs a utilização das instalações do Parque de Exposições – que naquela época era considerado um dos maiores do Estado – para outros eventos ligados à cultura e lazer, bem como disponibilizar o espaço para eventos ligados à inovação tecnológica. Para quem não se lembra, na década de 80, Assis era forte na venda de máquinas e equipamentos agrícolas e a cidade chegou até a sediar o lançamento de um modelo específico de máquina agrícola de grande porte. Em resumo, nós imaginávamos em Assis, uma feira que possibilitasse bons negócios e também a difusão de tecnologia, algo semelhante ao que hoje conhecemos por Agrishow – que acabou virando realidade anos depois em Ribeirão Preto. Como todos podem constatar, a idéia não vingou por aqui, pois o interesse político imperou no uso do parque de exposições em detrimento do desenvolvimento regional, e podemos até afirmar que, dentro dessa mesma visão estreita, a região perdeu seu destaque pelo mesmo cunho político.
Esperamos que a história não se repita, isto é, que o parque de exposições não seja usado como trampolim político e nem seja usurpada a sua vocação original, tendo inclusive o desmembramento de sua área para outros fins.
Se realmente houver vontade política para fazer Assis crescer, as autoridades deveriam ouvir as entidades locais preocupadas verdadeiramente com a questão regional. Mas infelizmente, Assis parece ter a vocação de ir contra tudo que possa mudar e quebrar essa inércia desenvolvimentista.
Outro bom exemplo dessa vocação foi a iniciativa que o Sindicato Rural de Assis junto com a ACIA e mais 32 entidades da cidade tentaram trazer para a região: a inclusão de cinco cursos de ciência e tecnologia no Campus da Unesp de Assis, em parceria com a prefeitura municipal. Dentre os cursos pretendidos, podemos citar farmácia bioquímica, engenharia de alimentos, engenharia da computação, entre outros. Este trabalho que começou no seio da comunidade, que foi elogiado dentro da Unesp, infelizmente não teve o mesmo apoio da maioria das lideranças políticas locais.
Foi uma pena, pois essa reivindicação já tinha sido aprovada pelo reitor da Unesp na época, José Carlos Souza Trindade. E dentro dos 13 cursos que haviam sido aprovados pelo governo do Estado para ampliação da Unesp no interior, cinco deles viriam para Assis e mais cinco já estavam definidos para vir posteriormente. É importante citar a visita do então reitor à Assis, que se encantou com as instalações do IEDA que o prefeito ofereceu para abrigar os cinco cursos pretendidos.
Isso certamente mudaria o perfil da região, pois com a vinda desses cursos, a cidade iria receber mais pessoas como estudantes, professores e técnicos. Com isso o nível sócio-econômico melhoraria, e pela facilidade de encontrar mão de obra qualificada, atrairia a instalação de novas empresas, principalmente do ramo tecnológico. Com o tempo, Assis teria novamente entrado na rota do desenvolvimento sustentável. Estaríamos seguindo os mesmos passos de São Carlos que, hoje, indiscutivelmente se tornou num pólo de inovação tecnológica. Infelizmente, mais uma vez, Assis perdeu. Se a instalação do cinco cursos houvesse ocorrido, abriria-se espaço para as especializações no campo da tecnologia.
Anos depois desse episódio ter ocorrido, Limeira teve a mesma oportunidade e não desperdiçou. Mobilizados pela mesma causa e pensando a médio e longo prazo, os prefeitos e autoridades daquela região se esforçaram e conseguiram levar para Limeira a única unidade da Unicamp fora de Campinas. Cerca de R$5 milhões foram destinados à construção do campus que contou inicialmente com 8 cursos.
O perfil regional de Assis hoje é triste. Perdemos a potencialidade agrícola e econômica, não conseguimos fechar o ciclo da agricultura e em vez de melhorar o transporte ferroviário, aos poucos está sendo desativado.
E agora, o Censo 2010 vem comprovar aquilo que já sabíamos, ou seja, que o crescimento populacional não acompanhou a média prevista pelo IBGE, comprovando mais uma vez a inércia instalada na região.
Num outro exemplo mais recente da dita vocação de Assis, nós tínhamos um candidato a deputado estadual com grande potencial para ser eleito, e por ironia o único lugar que ele não alcançou boa votação foi Assis.
O individualismo que permeia o nosso país é explicitado em Assis. Da mesma forma que vemos a disputa de poder em nível federal sem a preocupação em levar o desenvolvimento para todo o interior do país, assim vemos a mesma coisa acontecendo perto de nós. É o projeto de poder desacompanhado de um projeto de desenvolvimento preocupado com o bem comum.
Infelizmente a novela continua e não podemos esquecer que está em discussão a renovação do contrato de concessão do serviço de água e esgoto do município. Além de ser de interesse local é bom lembrar que são cerca de R$ 25 milhões que saem da cidade todo ano.
Cabe a nós exercer a pressão sobre as autoridades. Já perdemos muitas oportunidades por falta de pressão e para piorar acreditamos que há quem exerça pressão contrária.
Orson Mureb Jacob
Presidente do Sindicato Rural de Assis
Fonte: Assis Notícias