Todos nós carregamos lembranças ligadas a experiências em nossa infância. Trago comigo um quadro fixado no corredor da casa de meus avós paternos. Tornou-se marcante por ser uma significativa figura emoldurada: Uma foto de meu avô Nicanor com o memorável presidente Juscelino Kubitschek. Foi na adolescência, momento em que vi minha consciência política sendo moldada sob os ecos das “diretas já” e eleição do primeiro presidente por voto direto, que me sentei com o meu avô para conversarmos sobre sua carreira política. Fui surpreendido com o seu relato. Em suas palavras descobri que sua trajetória política havia sido concisa, fruto de uma pessoal constatação: “É impossível conciliar carreira política e uma vida fiel aos princípios da Palavra de Deus”. 

Talvez a experiência de meu avô tenha sido a de muitos outros cristãos, que por serem compromissados com os valores do reino de Deus, abandonaram suas carreiras políticas. Penso nisto ao observar os rumos de nossa política partidária brasileira, a enxurrada de escândalos de corrupção e todo tipo de falcatruas envolvendo o dinheiro público. Estamos presenciando uma prática de política iníqua institucionalizada, “legalizada”. Como se já não bastassem os esquemas de fraude de licitações, propinas pagas pelo poder executivo ao legislativo para verem seus projetos aprovados, entre outras tramóias obscuras de corrupção e apoderamento dos recursos públicos. Estamos presenciando a legalização de meios em que “os poderosos” podem se enriquecer as custas do povo . O que falar então dos intermináveis pedágios, dos que se tornaram multimilionários beneficiados pelo BNDES, das milionárias indenizações pagas “aos que sofreram” com a ditadura, etc.. A sensação que temos é que sumiram os políticos que estão verdadeiramente dispostos a lutar pelo povo! Pessoas honestas e realmente vocacionadas para o serviço público, para o estabelecimento de políticas que beneficiem a sociedade e não os seus próprios bolsos.

Como ministro religioso poderia acalentar meus anseios e esperanças na proposta de ligar política à religião, mas é justamente esta mistura que tenho julgado ser muito perigosa! As atuais experiências nos mostram que um caminho inverso tem sido tomado. A religião, ao invés de influenciar a política, tem se tornado uma escrava dos interesses seculares.  Refiro-me a muitos líderes religiosos que alienam seus fiéis e os tratam como uma massa de manobra, levando-os a servirem aos interesses de políticos que pagam por este benefício.  O fato é que, mesmo havendo religiosos sérios, lutando por uma moralização na política, no horizonte nacional a realidade é sorumbática e desesperadora! Não acredito em líderes religiosos mudando a conjectura política brasileira, nesta perspectiva de religião que serve aos princípios e aos sistemas políticos atualmente estabelecidos.

Como cristãos devemos lutar por uma mudança nos atuais valores! Por uma política construída a partir de valores religiosos universais. Pela formação de uma consciência política que sirva aos princípios éticos e humanitários do reino de Deus. Pela eleição de pessoas que temam, por seus atos, a opinião dos eleitores detentores do poder de colocá-las lá. Por cidadãos donos de uma consciência que não pode ser comprada por políticas assistencialistas, nem tão pouco, por influencia de líderes gananciosos que se vendem, negociando a graça de Deus. 

Nestas eleições, não misture religião com política! Faça das suas convicções religiosas, digo, valores do reino de Deus, o requisito primordial na escolha de seus candidatos. E depois, não deixe os eleitos esquecerem-se do seu compromisso com a justiça e bem estar geral do povo. Toda mudança geral começa com uma individual. Não se conforme com este mundo, não se deixe levar por maquiagens, propagandas marqueteiras e pesquisas engenhosas. Vote consciente! Vote com dignidade e valor! Seja um instrumento de bênção para o nosso país. Que Deus abençoe e propicie mudanças em nossos futuros governantes e em todo o sistema político da nossa nação. Paz para o Brasil! 

Rev. Denis S. L. Gomes